quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Para elucidar as Juventudes sobre os novos tempos vividos pela igreja, partilhamos esse breve artigo uma semana após o anúncio sobre a 'renúncia' do Pontíficie Bento XVI 

Bento XVI não renunciou
Por Alexandre M. Rangel*

A “renuncia” de Bento XVI pode ter sido motivada por muitas razões, algumas intelectuais, outras espirituais. Porém, com certeza ele colocou sua decisão em oração, fez seu discernimento com honestidade, escutou seu coração e sua mente, antes de perceber e fazer a vontade de Deus. Isso eu não tenho dúvida.

Foi um papa que teve atitudes conservadoras e ao mesmo tempo percebeu que precisava fazer com que a Igreja encarnasse na sociedade contemporânea. Como disse Leonardo Boff: “ambiguidades marcam a história de Ratzinger”[1]. Não devemos encarar de maneira negativa essa frase, pois isso mostra que o homem, professor, bispo e papa nunca parou de buscar a vontade de Deus em sua vida, mesmo que essa vontade fosse motivo de escândalo para uns e loucura para outros.

Eu penso que sua atitude deva ser vista por toda pessoa que crê no Cristo, como um sinal sensível que aponta, revela e reenvia, um sacramento que aponta para uma Igreja em transformação que ainda tem salvação, mas precisa abrir um pouco mais suas janelas para deixar o ar fresco entrar e a poeira sair - rememorando o papa João XXIII na abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II. 

Estamos vivendo um momento de profunda crise das instituições no mundo contemporâneo e com a instituição Igreja não é diferente. A diferença está apenas no fato de que a hierarquia que muitas vezes é identificada como Igreja, é apenas uma parte de um corpo maior do qual a cabeça é Cristo. Toda pessoa batizada que se reúne comunitariamente e celebra a memória da vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo forma uma ecclesia, uma igreja viva e encarnada na sociedade.

É por essas e outras questões que o discernimento do papa Bento XVI deve tocar o nosso mais íntimo e nos fazer olhar com mais honestidade para nossa vocação primeira, a vocação de ser “ser humano” e consequentemente, para a missão da Igreja.

A mensagem transmitida por Cristo em seus gestos e ações foi: “quem ama o próximo cumpriu plenamente a Lei” (Rm 13,8b). O Vaticano II afirmou que todos somos chamados pelo mesmo batismo a participar do mesmo sacerdócio de Cristo e a nos oferecer como hóstia viva para que o outro tenha mais vida (LG 10). Ou seja, nossa vocação primeira, antes de sermos religiosos, religiosas ou mesmo papa é a vocação para sermos mais humanos, tendo Cristo como modelo a ser plasmado.

Logo, o próximo vem antes do padre ou bispo. A comunidade humana, do grego ecclesia e do hebraico qahal vem antes da hierarquia e do poder, pois “o poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente”[2]. Esse é o sinal crístico que o ser humano Ratzinger nos revela em um gesto simples e humilde, sinal de que “a Igreja precisa de uma reforma mais radical, que afete todos os seus domínios”[3].

É por isso que digo que Bento XVI não renunciou, ele discerniu e agiu conforme a vontade de Deus.


[1] http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=73533
[2] LENAERS, Roger. Outro cristianismo é possível - A fé em linguagem moderna, São Paulo: Editora Paulus, 3ª edição, 2011, p. 13.
[3] Ibid. p. 25.


* Alexandre M. Rangel é Teólogo, Analista de Sistemas, especialista em Redes de Computador e em Tecnologias e Mídias Digitais.

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