segunda-feira, 23 de abril de 2012

Semana da Cidadania do Vicariato Suburbano- A ditadura dos fast foods


“Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (I Cor 10, 31); Quando nos alimentamos, qual é nossa postura diante daquilo que se nos apresenta como sustento? Será que pelo menos traçamos o sinal da cruz lembrando-nos do Deus da vida?... Mais ainda, as pessoas eventualmente costumam sair para comer fora de casa, será que é fácil nos encontrarmos rezando quando paramos numa lanchonete, pizzaria ou qualquer restaurante?


Em plena modernidade, facilmente nos justificamos pela correria do dia-a-dia para não nos importarmos com qualquer outra coisa que não seja nosso trabalho ou atividades, que não seja nossas realizações produtivas, que não seja nossa busca por facilidades. Fato é que toda e qualquer pessoa está sempre em busca de sua felicidade e deseja encontrar as verdades para se calçar. Com isso, no bojo dessa discussão, não podemos deixar de considerar aspectos sobre a tão falada qualidade de vida; ora... e saúde não se reduz ao bom rendimento fisiológico de nosso corpo, mas abrange os acontecimentos mentais, tanto intelectuais quanto emocionais, e, mais ainda, para nós a saúde descende de nossa boa relação com nossa fé também. Isso porque o que conseguimos ver em fazer amigos, em completar os estudos, em conseguir um emprego seguro, em lutar por um sistema de saúde de qualidade, em ter uma vida tranquila, em viver em paz, reflete ou, pelo menos, deveria refletir o nosso proceder em nossa vida espiritual. Assim, a qualidade de vida está associada a ter uma boa saúde, está associada a um bem-estar físico e mental e, para tanto, a alimentação não se encontra fora desse processo, bem como nossa atitude interna, nossa atitude espiritual frente ao alimento.
Com efeito, olhando para nós à luz da fé, encontramo-nos manchados pela culpa original e, diante da fragilidade humana, somos levados por um amor desregrado a nós mesmos, somos levados por um querer ser feliz que acabamos por uma irracionalidade, ferindo a nós mesmos. Pois bem, a conjuntura social na qual estamos inseridos demanda informações grandes em número e variedade, que não faz outra coisa senão alimentar-nos em nossos desejos por sensações. Nessa mesma perspectiva, é notória a ação publicitária tentando vender felicidade, como não se pode vender felicidade, a ação passa ser a apresentação de uma soma de prazeres que acaba por ilusão. Pois pela propaganda criamos uma relação comercial, associamos a alegria à nossa livre decisão de consumir e contrapomos, claramente, a diferença entre prazer e felicidade.
Comer bem é parte integrante de uma boa qualidade de vida. Mas, será que quando pensamos em comer bem significa estar em um restaurante ou lanchonete conhecidos ou, primeiramente, pensamos em ter uma alimentação balanceada? Contudo, cabe notar que o ato de comer não é uma ação ruim, não é um prazer que devemos evitar a todo custo, como uma mortificação total para termos uma relação mais pura com o Senhor – temos sentidos, fomos criados com sentidos e percepções. De outro lado, notamos também que o prazer de comer é tido como diversão e como tal faz parte da melhoria da qualidade de vida – uma vez, também, que é muito mais fácil simplesmente pagar por um alimento pronto do que prepará-lo; é mais prático deixar-se seduzir por uma imagem bonita, por um cheiro bom e um sabor gostoso do que pensar no que realmente é mais saudável, de que modo é mais saudável consumir um alimento. A questão é que diversão não deve ser tratada em seu sentido restrito de palavra, significando ato irrefletido, pura distração, embora assim impere nessa dinâmica de entretenimento que vivemos. Deste modo, o ato de comer passar a ser mais um puro ato de consumo em prol de status inserido na lógica econômica do entretenimento, ignorando, pelo menos, a tentativa de sabermos sobre nossos sentimentos de estarmos felizes ou infelizes, satisfeitos ou mortificados, pois, sem isso, não estaríamos uma coisa nem outra.

Com isso, em ressalto da nossa inclinação à busca pelo prazer e fuga dos incômodos e sofrimentos, podemos exemplificar nossa atitude frente às opções alimentares e por nossos próprios interesses quando nos encontramos, devido a tal correria do dia-a-dia, várias horas sem comer e nos inquietamos, sem medidas, quando levados a reflexões e sugestões sobre o jejum. Ora, aqui vemos claramente que o nosso prazer está nos nossos interesses e se quer pensamos que a verdadeira sensação de felicidade está na realização de nossas potencialidades, as quais só encontram sua plenitude no Criador, O começo e O fim de nossa existência.

No que se refere a nossa alimentação, lembramos mais uma vez: “quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (I Cor 10, 31); lembrar-se da criação e esquecer-se do Criador parece que é a atitude que prevalece quando nos alimentamos, uma vez que tendemos a voltar nossos olhos para nós mesmo, para o que estamos sentindo ou buscando sentir naquele momento. Não é uma postura fácil de assumir e requer tempo e exercícios, mas é um degrau da escada que nos conduz ao Céu: olhar para a criação e lembrar dos sonhos e mãos que a modelaram, pois tudo é dom de Deus. Se assim não for, nos encontraremos em uma atitude de consumo destruidora, nos encontraremos na lógica de degradação ecológica onde só pensamos em tirar o proveito das coisas.

Referências

Terapia das doenças espirituais – Gastrimargia – Pe. Paulo Ricardo

BARBOSA, Cláudio L. de A. O conceito de diversão no contexto escolar: uma abordagem ética. Tecnologia Educacional, v.29 (148). Jan/ Fev/ Mar, 2000.

Texto Passeio Socrático – Frei Betto
www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=1601

Por Humberto Macieira ( Assessor do Vicariato Suburbano)

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