terça-feira, 2 de julho de 2013

Católicos nas manifestações




            Nos últimos dias, ouviu-se por todo o país um grande clamor por parte da população, sobretudo da juventude brasileira. Através das redes sociais, os jovens organizaram-se e foram para as ruas lutar por dias melhores. No início, a principal reivindicação era contra o aumento das tarifas do transporte público. Não demorou muito, outras reivindicações somaram-se, assim como o número de participantes. Pouco a pouco, a juventude brasileira soltou a sua voz nas diversas manifestações em todo o Brasil e, para além da diminuição das tarifas do transporte público, bradou por outras mudanças. “O Gigante acordou!” – gritavam os manifestantes. Não era mais possível aceitar passivamente a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Dessa maneira, tornou-se inaceitável a violência contra a juventude e a desigualdade social. Assim, testemunhavam que a esperança ainda estava viva e atuante.

            Diante de todos esses acontecimentos, é necessário que nos perguntemos: E os jovens discípulos de Jesus inseridos na pastoral da juventude? O que pensar sobre isso? Devem ou não participar? Será possível viver a fé cristã e envolver-se em política? O que fazer?

            Naturalmente, as respostas para essas questões não são simplórias. No entanto, podemos realizar algumas breves reflexões que talvez nos ajudem a respondê-las e, em outro momento, aprofundá-las.

            O nosso querido e amado Papa Francisco, em um encontro realizado este ano com jovens estudantes de colégios jesuítas em Roma, declarou, ao responder a uma das perguntas que lhe foram dirigidas: “Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós, cristãos, não podemos brincar de Pilatos, lavar-nos as mãos. Devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade, porque procura o bem comum.
            O Youcat também nos ajuda a entender essa questão: “[440] É uma missão especial dos cristãos leigos empenhar-se na política, na sociedade e na economia com o Espírito do Evangelho, do amor, da verdade e da justiça. Para tal, a Doutrina Social da Igreja oferece-lhes uma clara orientação.”

            O Documento sobre a evangelização da juventude número 85 – CNBB na página 69 ensina: “Não se pode pregar um amor abstrato que encobre os mecanismos econômicos, sociais e políticos geradores da marginalização de grandes setores da nossa população. Aqui há necessidade de formar o jovem para o exercício da cidadania e direitos humanos à luz do ensino social da Igreja. Há a necessidade de conectar a fé com a vida, a fé com a política.”


            Está claro que o empenho do cristão na política é uma verdadeira missão. No atual contexto de manifestações, é razoável que o jovem católico também queira participar e contribuir na construção da sociedade. No entanto, a participação da juventude católica deve ser realizada com o Espírito do Evangelho. Isso significa que o jovem católico não deve ter uma postura violenta. Não estamos defendendo que o cristão seja passivo, mas, que seja verdadeiramente pacífico e comprometido com a justiça. Outro ponto importante é de que a sua ação deve ser iluminada pela luz dos ensinamentos sociais da Igreja, para que não corra o risco de abandonar a sua fé ou instrumentalizá-la para atingir interesses pessoais.

            Para tanto, é importante que o jovem católico estude. Não é saudável fazer política sem preparo, sem formação. Quando isso acontece, geralmente o jovem é manipulado pelas diversas ideologias existentes, e o pior, muitas vezes contrárias ao Espírito do Evangelho. Aqui, podemos apresentar algumas dicas sobre o que fazer:

1) Vida de oração, vida sacramental e, evidentemente, a participação na missa.
2) Vida comunitária em um grupo de jovens.
3) Leitura do subsidio da pastoral da juventude.
4) Estudo do Youcat.
4) Estudo da Doutrina Social da Igreja e dos documentos do Concilio Vaticano II.
5) Estudo dos documentos da CNBB, em especial, o documento 85 sobre a evangelização da juventude e da V Conferência Episcopal de Aparecida.
6) Leitura da Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas a participação e comportamento dos católicos na vida política.
7) Leitura de jornais, revistas e livros sobre Fé e Política que estejam de acordo com o Magistério da Igreja.

            Mas como fazer? Não estamos interessados em fechar as possibilidades para esse preparo. Para tanto, a pastoral da juventude possui algumas práticas que certamente irão ajudar você e o seu grupo: realização de encontros, palestras, rodas de conversa, debates, participação em espaços que proporcionem a discussão sobre o assunto. Essas são algumas sugestões para a caminhada.

            Naturalmente, essas são apenas algumas dicas para um empenho político verdadeiramente cristão. Devemos aproveitar a oportunidade de que a juventude brasileira se mobilizou por uma série de causas e nos perguntarmos: o que pode fazer, então, a juventude católica? A Jornada Mundial da Juventude no Rio será uma excelente oportunidade para os jovens católicos mostrar para o Brasil e para o mundo que existem outros milhões de jovens que são capazes de se mobilizar não apenas para questionar esta civilização, mas, dispostos a darem as suas próprias vidas para construírem uma nova civilização do Amor. Esses jovens, não são apenas manifestantes, são peregrinos que caminham seguindo os passos de um Gigante que não acordou, porque nunca dormiu. Está vivo ontem, hoje e sempre. Nosso Senhor Jesus Cristo.




Texto: Pedro Suares (Assessor do Vicariato Norte)
Fotos: Internet

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