Nos
últimos dias, ouviu-se por todo o país um grande clamor por parte da população,
sobretudo da juventude brasileira. Através das redes sociais, os jovens
organizaram-se e foram para as ruas lutar por dias melhores. No início, a
principal reivindicação era contra o aumento das tarifas do transporte público.
Não demorou muito, outras reivindicações somaram-se, assim como o número de
participantes. Pouco a pouco, a juventude brasileira soltou a sua voz nas
diversas manifestações em todo o Brasil e, para além da diminuição das tarifas
do transporte público, bradou por outras mudanças. “O Gigante acordou!” –
gritavam os manifestantes. Não era mais possível aceitar passivamente a
corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Dessa
maneira, tornou-se inaceitável a violência contra a juventude e a desigualdade
social. Assim, testemunhavam que a esperança ainda estava viva e atuante.
Diante
de todos esses acontecimentos, é necessário que nos perguntemos: E os jovens
discípulos de Jesus inseridos na pastoral da juventude? O que pensar sobre
isso? Devem ou não participar? Será possível viver a fé cristã e envolver-se em
política? O que fazer?
Naturalmente,
as respostas para essas questões não são simplórias. No entanto, podemos
realizar algumas breves reflexões que talvez nos ajudem a respondê-las e, em
outro momento, aprofundá-las.
O
nosso querido e amado Papa Francisco, em um encontro realizado este ano com
jovens estudantes de colégios jesuítas em Roma, declarou, ao responder a uma
das perguntas que lhe foram dirigidas: “Envolver-se na política é uma
obrigação para o cristão. Nós, cristãos, não podemos brincar de Pilatos,
lavar-nos as mãos. Devemos envolver-nos na política, porque a política é uma
das formas mais altas da caridade, porque procura o bem comum.”
O Youcat também nos ajuda a entender
essa questão: “[440] É uma missão especial dos cristãos leigos empenhar-se
na política, na sociedade e na economia com o Espírito do Evangelho, do amor,
da verdade e da justiça. Para tal, a Doutrina Social da Igreja oferece-lhes uma
clara orientação.”
O Documento
sobre a evangelização da juventude número 85 – CNBB na página 69 ensina: “Não se pode pregar um amor abstrato que
encobre os mecanismos econômicos, sociais e políticos geradores da marginalização
de grandes setores da nossa população. Aqui há necessidade de formar o jovem
para o exercício da cidadania e direitos humanos à luz do ensino social da
Igreja. Há a necessidade de conectar a fé com a vida, a fé com a política.”
Está claro que o
empenho do cristão na política é uma verdadeira missão. No atual contexto de
manifestações, é razoável que o jovem católico também queira participar e
contribuir na construção da sociedade. No entanto, a participação da juventude
católica deve ser realizada com o Espírito do Evangelho. Isso significa que o
jovem católico não deve ter uma postura violenta. Não estamos defendendo que o
cristão seja passivo, mas, que seja verdadeiramente pacífico e comprometido com
a justiça. Outro ponto importante é de que a sua ação deve ser iluminada pela
luz dos ensinamentos sociais da Igreja, para que não corra o risco de abandonar
a sua fé ou instrumentalizá-la para atingir interesses pessoais.
Para tanto, é
importante que o jovem católico estude. Não é saudável fazer política sem
preparo, sem formação. Quando isso acontece, geralmente o jovem é manipulado
pelas diversas ideologias existentes, e o pior, muitas vezes contrárias ao
Espírito do Evangelho. Aqui, podemos apresentar algumas dicas sobre o que
fazer:
1) Vida de oração, vida sacramental e, evidentemente, a
participação na missa.
2) Vida comunitária em um grupo de jovens.
3) Leitura do subsidio da pastoral da juventude.
4) Estudo do Youcat.
4) Estudo da Doutrina Social da Igreja e dos documentos do
Concilio Vaticano II.
5) Estudo dos documentos da
CNBB, em especial, o documento 85 sobre a evangelização da juventude e da V
Conferência Episcopal de Aparecida.
6) Leitura da Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas a
participação e comportamento dos católicos na vida política.
7) Leitura de jornais, revistas e livros sobre Fé e Política que
estejam de acordo com o Magistério da Igreja.
Mas como fazer? Não estamos interessados em fechar as possibilidades
para esse preparo. Para tanto, a pastoral da juventude possui algumas práticas
que certamente irão ajudar você e o seu grupo: realização de encontros,
palestras, rodas de conversa, debates, participação em espaços que proporcionem
a discussão sobre o assunto. Essas são algumas sugestões para a caminhada.
Naturalmente, essas são apenas algumas dicas para um empenho
político verdadeiramente cristão. Devemos aproveitar a oportunidade de que a
juventude brasileira se mobilizou por uma série de causas e nos perguntarmos: o
que pode fazer, então, a juventude católica? A Jornada Mundial da Juventude no
Rio será uma excelente oportunidade para os jovens católicos mostrar para o
Brasil e para o mundo que existem outros milhões de jovens que são capazes de
se mobilizar não apenas para questionar esta civilização, mas, dispostos a
darem as suas próprias vidas para construírem uma nova civilização do Amor.
Esses jovens, não são apenas manifestantes, são peregrinos que caminham
seguindo os passos de um Gigante que não acordou, porque nunca dormiu. Está
vivo ontem, hoje e sempre. Nosso Senhor Jesus Cristo.
Texto: Pedro Suares (Assessor do Vicariato Norte)
Fotos: Internet
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