“O rosto de
Deus é jovem também /E o sonho mais lindo é ele quem tem/ Deus não envelhece,
tampouco morreu/ Continua vivo no povo que é seu/ Se a juventude viesse a
faltar /O rosto de Deus iria mudar.” (Jorge Trevisol)
Eis-me aqui, envia-me (Is. 6,8)
é o lema da Campanha da Fraternidade 2013, cujo tema é Fraternidade e juventude. Neste ano em que vivenciamos o ano da fé,
instituído pelo então papa Bento XVI, a Igreja do Brasil se volta para a
juventude, lugar teológico privilegiado, e suas diversas realidades no mundo
contemporâneo. As vésperas da Jornada Mundial da Juventude, a temática proposta
pela CNBB, anuncia a esperança do amanhecer, ao convidar os jovens a ir ao
encontro de outros jovens, anunciando a Boa- Nova que é Cristo Jesus, “caminho,
verdade e vida (Jo 14,6)”.
Com efeito, o tema “juventude” não nos é novo. Ao contrário, nos faz
rememorar os primórdios dos anos de 1990, momento em que segundo a CNBB, a
“Igreja se volta para as situações existenciais do povo” [2].
Com o tema: Juventude e caminho aberto,
convidou-se os jovens à época a assumirem o papel de protagonistas na
sociedade, a serem “abertos, conscientes, bem esclarecidos”[3], a
juntarem as mãos, caminhando em união.
Depois desse brevíssimo retrospecto sobre a juventude na campanha da
fraternidade, podemos traçar um paralelo entre as duas realidades: uma que
convida o jovem a se doar à causa da vida, a ser um protagonista no meio aonde
vive; já a outra o convida a ser um elo de ligação entre Jesus e muitos outros
jovens, tornando-se discípulo missionário da Nova Evangelização, reconhecendo
nesse mesmo jovem a eficácia de um testemunho de santidade. Além disso, convém
destacar que os tempos são outros e o contexto no qual se emergem as
necessidades de uma juventude que “quer ter voz, ter vez e lugar” também
mudaram. Segundo o Documento de Aparecida, “vivemos uma mudança de época, e seu
nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser
humano, sua relação com o mundo e com Deus.”[4]
Para aprofundar mais essa questão, basta nos perguntar: o que é ser jovem
nesses distintos contextos? Acreditamos que este caminho nos auxiliará a
compreender o protagonismo juvenil e sua atuação na sociedade e nos meios
eclesiais. Nos anos de 1990, por exemplo, houve um aumento considerável no
envolvimento (por que não engajamento?) dos jovens em grupos culturais e
artísticos. Assim, muitos destes se envolveram em atividades ligadas à dança,
ao teatro e à música, possibilitando, assim, criar um traço comum entre essa
geração: o sentimento de pertença a uma “tribo” e facilidade em transitar por
diversos grupos, sem que isso venha a afetar sua identidade. Entretanto, essa
mesma juventude, diferentemente das gerações que antecederam, vem perdendo a
sua dimensão política, em prol de valores mais individualistas. Na atualidade,
esse mesmo individualismo, valor cultural da sociedade moderna e pós-moderna,
se acentua, criando obstáculos para a vida em grupos, haja vista a perda de
referências, aceleração do tempo e falta de comprometimento político. Por outro
lado, como nos mostra o texto base da CF 2013, o “novo milênio trouxe novas
temáticas, novas maneiras de se relacionar e de se organizar, com as novas
tecnologias de informação e de comunicação.”[5]
Neste sentido, a juventude busca, ao seu modo, exercer o seu protagonismo,
aliando-se aos meios em que dispõe.
Na contramão da pós-modernidade, da aparente fluidez e da perda de
referências, constatou-se que as expressões religiosas se constituem em um locus por excelência da juventude, de
sua interação social e agregação. Segundo os dados do censo de 2010 do IBGE, o
percentual de jovens que não possui religião se reduziu. Tal fenômeno aponta
para suscetibilidade e, também sensibilidade, dos jovens que tendem a propostas
religiosas mais radicais na relação com o sobrenatural.
Para o Documento da CNBB “Evangelização da Juventude”: “Em nossa Igreja
há presença significativa de jovens em vários setores da vida eclesial: nas
comunidades eclesiais de base e nas paróquias, participando das equipes de
liturgia e de canto, atuando como catequistas, em diversas pastorais”.[6]
Ora, tal afirmativa aponta para a preferência afetiva e efetiva, por parte das
estruturas eclesiais, pelos jovens, sobretudo os mais empobrecidos.
Partindo da premissa de que a
juventude está no coração da Igreja, consideramos que a comunidade eclesial
adota a postura de mãe que educa na fé e propõe o seguimento a Jesus Cristo,
inserindo-os na lógica de discípulos-missionários. Ela deve ser para o jovem o
local de conhecimento, partilha e amizade, que promove o amadurecimento destes
jovens em “estatura, sabedoria e graça”. Sobre este assunto, o papa Bento XVI,
em 2007, proferiu aos jovens brasileiros: “Saibam ser protagonistas de uma
sociedade mais justa e mais fraterna inspirada no evangelho, promotora da vida,
eliminando discriminações existentes nas sociedades latino-americanos”.[7]
De fato, todos os esforços que
antecederam à Campanha da Fraternidade 2013 pontuaram o valor da juventude e o
seu teológico. A criação da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude,
criada em 2011 pela 49ª Assembleia da CNBB e a indicação para sediar a Jornada
Mundial da Juventude vem nessa direção, reforçando a identidade jovem na Igreja
no Brasil.
É por isso que a CNBB reafirma,
nesse ano de 2013, sua aposta no jovem. Eis-me
aqui, envia-me (Is 6, 8) significa entrega
sem medidas a Deus e ao Reino dos céus. Frase proferida pelo jovem Isaías, no
momento em que aceita a missão de se tornar profeta de Israel, hoje, somos
convidados a responder a esse chamado, a sermos anunciadores e construtores de
um mundo novo.
O jovem representa vigor e
mudança, mas também protagonismo. Por essa palavra, compreendemos que o ato de
protagonizar é uma qualidade de quem se destaca. Sendo assim, o protagonista é
aquele que participa ativamente na sociedade e na Igreja, que visa à construção
de um mundo melhor e mais justo. Evidentemente, para que isso ocorra é
necessário compromisso social, que vem como um produto dos processos educativos
para a fé. A Igreja está atenta aos clamores de uma juventude que padece frente
às desigualdades sociais e as demandas da atualidade. A violência e o
extermínio dos jovens, bem como o tráfico de drogas que vem dizimando parcelas
consideráveis da juventude brasileira, vêm despertando a atenção de tantos
outros jovens empenhados na erradicação desses flagelos.[8]
Além
disso, esses mesmos jovens são convidados a serem protagonistas nos meios onde
o debate entre fé, razão e ciência são frequentes. O testemunho verdadeiro e a
vivência pautada no Evangelho os capacitam a defender sua fé nestes locais. De
igual modo, os meios tecnológicos também representam um convite a estes, já que
o jovem representa o novo.
Por fim, foi possível esmiuçar nas
linhas acima as permanências e mudanças de uma juventude que tem lutado por seu
valor na sociedade. Seguindo os ensinamentos de Cristo, pão de igualdade, esses
jovens tem remado contra a maré, protagonizando nos meios digitais, eclesiais e
sociais a beleza de ser jovem, configurando a face de um Deus jovem.
Fotos: Campanha da Fraternidade de 2013 (à
esquerda) e de 1992 (à direita).
Texto: Giselle Pereira [1]
Maiores informações sobre a CF2013: http://www.cf2013.org.br/home.html
[1]Membro da
Pastoral da Juventude do Regional Leste 1 da CNBB e Coordenadora da Pastoral da
Juventude do Vicariato Episcopal Urbano.
[2] Manual
da Campanha da fraternidade 2013, p. 139.
[3] Trecho
extraído do hino da Campanha da Fraternidade de 1992, intitulado: “Queremos ser
jovens”.
[4]CELAM,
Documento de Aparecida, n. 44.
[5] Texto-base
da Campanha da Fraternidade 2013, p. 33.
[6] CNBB,
Documento Evangelização da Juventude, n. 47.
[7] Bento
XVI. Discurso aos jovens brasileiros, em 10 de maio de 2007.
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